Pontes Pantaneiras

A força das mulheres pantaneiras e cerradeiras na sociobiodiversidade

No painel que encerrou o terceiro dia do Fórum Pontes Pantaneiras, a professora Ieda Maria Bortolotto da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul mediou um poderoso debate em uma mesa formada apenas por mulheres pantaneiras e cerradeiras, com histórias profundas que compõem a sociobiodiversidade dos biomas.

Durante o diálogo, cada integrante apresentou sua história e colocou os desafios existentes para garantir a preservação da cultura dos povos que habitam tanto o Pantanal, mas também o Cerrado.

Creusa Vergílio, da tribo indígena Kadiwéu, agradeceu a oportunidade de poder conhecer e apresentar a realidade do seu povo. Contou que por meio de sua arte, feita a partir de elementos da natureza, a artista tem levado a sabedoria ancestral e o exemplo que une conservação e cuidado com a natureza para o mundo. Enfatizou a necessidade de projetos que protejam os indígenas, principalmente as mulheres, como forma de preservar a cultura e a biodiversidade.

A presidente da Associação De Mulheres Vukapanavó da aldeia Imbirussu, Libertina Bueno, contou como tem organizado a comunidade para garantir renda às mulheres, produzindo pães enriquecidos com ingredientes do Pantanal. Os pães produzidos pela Associação são entregues nas creches e escolas de Aquidauana. Apesar de terem conseguido um espaço cedido pela prefeitura na antiga sede ferroviária, Libertina contou que hoje luta para conseguir uma sede para que as 20 mulheres que trabalham da Associação possam continuar garantindo renda com a força do trabalho próprio.

Janir Gonçalves Leite retratou sua jornada de resgate da cultura do seu povo conciliando a carreira de servidora pública com o trabalho na comunidade do Distrito de Taunay em Aquidauana. Lá, a artesã ajuda as mulheres a ter seu próprio dinheiro, sem depender do trabalho nas plantações, encontrando formas de geração de renda que permitam manter a tradição de cuidados das crianças e trabalhos domésticos, como por exemplo a produção de bio-joias com sementes nativas. Janir é ceramista, arte que desenvolveu a partir das memórias de sua bisavó, utilizando elementos de animais locais como o Tuiuiú.

Rosana Claudino, presidente do Centro de Produção e Pesquisa e Capacitação do Cerrado, contou sua história como assentada, agricultora, extrativista, mãe e avó.

Rosana mostrou como o extrativismo sustentável com a cadeia do baru surgiu como resposta à necessidade de ter a voz das mulheres na geração de renda. Rosana explicou que hoje a quebra da castanha é feita de forma artesanal e que, no momento, buscam desenvolver tecnologias para automatizar o processo. A palestrante agradeceu a organização do evento, porém aproveitou para contribuir com sugestão para as próximas edições. Na visão dela, a representação dos povos não está refletida na identidade do evento, por exemplo.

Em um dos momentos mais emocionantes do painel, Dona Edil, da Rede de Mulheres Produtoras do Cerrado e Pantanal, apresentou a realidade de destruição da sua comunidade, causada pela intensa atividade extrativista que tem contaminado a água e aumentando o fluxo de caminhões nas estradas. Dona Edil mostrou vídeos e se emocionou ao reforçar a sua pela resistência dos povos comunitários.

A história de Nilza Zwicker, da Apaima Mel, demonstrou como o envolvimento comunitário pode garantir a sobrevivência dos habitantes do Pantanal, garantindo suas atividades já estabelecidas, como catadoras de iscas, complementando com outras que as tornem independentes. A apicultura surgiu como alternativa de renda para ela e outras mulheres durante a pandemia, e se tornou uma importante forma de renda, além de contribuir com a conservação do bioma. Nilza reforçou a importância do trabalho da ONG Ecoa, tanto no cuidado da saúde dos moradores, na busca de alternativas de rendas e agora, na formação dos moradores com treinamentos para combate aos incêndios.

O painel foi encerrado com a fala de Edinalda Nascimento da Rede Comunidades Tradicionais Pantaneiras. Edinalda parabenizou pela abertura do diálogo, agradecendo a todas as colegas que contaram suas histórias. “É muito importante vermos nossa comunidade representada neste palco, pois estamos cansadas de falarem de nós sem nós”, afirmou. Para ela, não há como falar da conservação do Pantanal sem falar das comunidades que lá habitam. “A cultura de conservação já faz parte da vida das comunidades. Além disso, quem sente o impacto primeiro são as comunidades tradicionais”, lembrou.

O painel foi finalizado com perguntas e comentários da plateia. A professora Ieda fez um balanço das falas e reforçou que este encontro representa um marco no diálogo da conservação do Pantanal, com a participação das comunidades tradicionais na busca de caminhos que sejam benéficos a todos.