A mesa-redonda trouxe como moderadora Christiane Pitaluga – UFMS. Ela mediou as experiências contadas por Lucas Caslu – Instituto Paulo Machado; Maria Alexandra – Aldeia Ipegue; Dona Élida – Assentamento Rural Santa Lucia; e Teresa Corçao – Instituto Maniva.
O alimento estabelece vínculos sociais, ele fortalece o lugar, o produtor, os chefes de cozinha junto às pessoas que consomem. E temos alimentos dos povos tradicionais, dos bolivianos, dos paraguaios, dos povos originários entre outros e existe uma preocupação com a sustentabilidade.
Dona Élida é agrofloresteira e guardiã das sementes ancestrais. Ela planta, colhe, coleta sementes e vê a vida nascendo na terra. Ela também trabalha perto do rio sucuri plantando verduras e alimento para o homem e para os animais. “Se cada um de nós plantar uma sementinha, o mundo seria muito melhor. Não dá para plantar só soja. Se tem planta para os animais na floresta, tem comida para a onça. Quando você planta uma árvore, você está plantando a água, o alimento, o ar puro para os animais e eu sempre acreditei que se cada um fizer um pouquinho, nós seremos mais fortes”, afirma.
Dona Maria que é indígena e artesã, carrega o nome de suas ancestrais. Ela conta que sua avó pedia permissão da natureza para entrar na mata para poder comer. “Quando eles viam frutas bonitas ficavam alegres por terem o que comer. Esse é um lado do Pantanal diferente e emocionante de vida. Nós estamos lá e nós somos Pantanal. É muito bom o que está acontecendo aqui. Nós precisamos escutar e conversar pois o ar é nosso, a água é nossa e a comida é nossa. Hoje, temos dificuldade de caça e pesca porque não tem mais rio. Tem indígena que não sabe nadar. Eu fico na parte das celebrações, da comida e de passar a cultura do nosso povo a diante e resgatar esses saberes ancestrais”, ressalta.
Tereza Corçao é chefe de cozinha e fundou o Instituto Maniva, que faz a ponte entre os chefes de cozinha e os agricultores familiares. Para ela, “não existe produto sem produtor, sem ribeirinho e sem as agroflorestas. Nós precisamos estar ligados e estender à mão para os dois lados e reconstruir a gastronomia brasileira”.
Lucas é a quarta geração descendentes de japoneses em Campo Grande. “Eu não tive cabeça para trabalhar e atuar com sustentabilidade, mas eu procuro seguir a sustentabilidade. Eu vim representando o Instituto Paulo Machado que faz um trabalho de pesquisa de gastronomia pantaneira e a divulgação dessa gastronomia”, explica. Ele contou que já teve a oportunidade de ir para Tokio para preparar e falar sobre comida brasileira. “Demos aulas em escolas, falamos na televisão, demos aulas para chefes de cozinha locais e consultoria gratuita para restaurantes que queriam trabalhar com insumos brasileiros. E lá deu para sentir a importância da nossa cultura. A hora que eu apresentei uma carne de sol e falei sobre a importância da carne para a nossa região. Lá você encontra polvilho, leite condensado, entre outros”, contou.
Para ele, nós precisamos ter orgulho da nossa comida. “Precisamos valorizar a nossa cultura. As pessoas precisam experimentar e conhecer o nosso sabor e a nossa realidade. Pode parecer simples para nós, mas é isso que eles querem comer. A gente precisa ter orgulho da nossa comida” afirma.
A mediadora trouxe um dilema da insegurança alimentar e falta de políticas de alimentação de qualidade nas escolas. Enfatizou a necessidade de se levar comida local e de verdade para as unidades de ensino, ao passo que a gastronomia é vista como algo chique, gourmetizado e glamourizado enquanto mais de 33 milhões de pessoas passam fome em um país que é líder mundial na exportação de insumos. “O problema que temos é a distribuição, somos insuficientes”, finaliza.